Não há semana em que não receba contactos de pessoas que querem desesperadamente sair de Portugal. Para qualquer outro país, para fazer qualquer coisa. Este desespero deixa-me muito assustada, mas mais do que isso, imensamente triste.
Quando saí do país, apesar de a crise já se ter instalado de malas e bagagens, ainda não era tão comum emigrar. Não desta forma alucinada, não este tipo de emigração. Claro que não é nada novo, gerações anteriores emigraram em massa, primeiro para as colónias, depois para França. Mas era um tipo de emigração diferente.
Portugal assiste agora a uma saída desmesurada de pessoal bem qualificado, que passou uma grande parte da vida a estudar e chega aos 20 e muitos sem nunca ter conseguido trabalhar.
E, falando sobre a realidade que conheço, se até há bem pouco tempo existia uma grande procura deste tipo de pessoas no mercado suíço-alemão, esta necessidade está a abrandar, o mercado está a ficar saturado e nós, Portugueses, estamos em clara desvantagem. Temos como concorrentes directos os emigrantes da Europa de leste, que com qualificações com o mesmo nível de reconhecimento que as nossas, têm muito mais facilidade em aprender a língua e são tão ou mais baratos que nós.
Já disse aqui várias vezes, e faço questão de o mencionar a quem me pergunta: a Suiça já não é o paraíso laboral de outros tempos. Um país cuja principal parcela de volume de negócios advém das relações comerciais com a Europa, não poderia escapar imune à crise. E o efeito está a fazer-se notar. Os bancos suíços, tidos como os melhores empregadores, com os melhores salários e benefícios começaram a despedir pessoal em massa. O banco UBS, por exemplo, anunciou em Outubro passado o despedimento de 10’000 pessoas.
Quando estivemos em lá agora pelo Natal, dizía-me um conhecido que ama Portugal demais para ir embora. Um país abençoado, sem tsunamis, furacões ou desastres vulcânicos, rodeado de praias maravilhosas, montanhas e paisagens fantásticas. E que é uma pena que os bons profissionais se vão todos embora porque dessa forma não vai haver quem salve o nosso país. E doeu-me imenso saber o quanto ele está certo. Senti-me culpada por ter desistido do meu querido país e ter abandonado a luta. Mas é um facto que em Portugal não há, neste momento, lugar para mim. Nem para mim, nem para as outras centenas de jovens licenciados que já não sabem a que mais sacrifícios terão de se sujeitar para sobreviver. Nem mesmo para os nossos pais, que trabalharam a vida inteira e agora vêm os seus salários reduzidos e os seus empregos em risco.
Quando Portugal voltar a precisar de mim, voltarei de bom grado. Levarei comigo tudo o que aprendi num país de distintos profissionais e grandes empresas, e que me acolheu, mesmo que de braços pouco abertos, quando eu mais precisei.
Só espero já não estar reformada quando esse dia chegar.
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